A Incomun na Fronteira entre arte, artesanato, design e moda
março 19, 2020
Sou sou a Thaís Rocha, uma das co-idealizadoras da marca Incomun. Estou aqui para contar sobre minhas impressões ao longo desses mais de 20 anos de prática que realizo com a argila de polímero, material que utilizamos para elaborar os acessórios que criamos. Sou artista e artesã desde criança, mas também sou artista de formação acadêmica, fiz licenciatura em Artes Visuais na UFMG e atualmente realizo minhas pesquisas no programa de mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT, na linha de pesquisas em Poéticas Contemporâneas. Desde a universidade eu me deparo com as problematizações sobre as fronteiras entre as artes, e se tratando da produção de objetos, as diferenças e hibridações que existem nos campos da moda, design, artesanato e arte. Vou começar a falar um pouco sobre esse assunto na nossa primeira postagem no Blog. Espero que vocês se interessem pelo tema que tem tudo haver com a família Incomun e que sempre me trouxe inquietações.
Todas as Fotos são de ensaios que realizamos no intuito registrar nossos artefatos.
Em primeiro lugar, entendendo que os conceitos de moda, design, artesanato e arte, são muito amplos, por isso, irei tentar costurar alguns aspectos de cada campo que mais me interessam, já que eu sou uma artista de formação que produz artesanalmente, projetos de criação de acessórios que compõe as tendências da moda.
Já sobre o design, como por exemplo o design de produto ou de moda, surgiu no contexto da Bauhaus no século XX, uma escola de design, artes plásticas, artesanato e arquitetura nascida num momento em que muitos criadores buscavam criar objetos conceituais que também tinham algum tipo de uso prático. O design, pode ser uma criação artística, mas ele tem um objetivo mercadológico de criar um produto que atenda algum tipo de necessidade específica como algum objeto ergonômico, multiuso e com uma estética singular. Aspectos estes, que observo nas produções da Incomun.
Chegando ao artesanato, ele tem como uma importante característica, o modo como o objeto é produzido, sendo que uma criação no campo da moda, design ou arte pode ser confeccionado artesanalmente. Por se tratar de uma feitura humana, cada peça irá carregar seu aspecto próprio. Em muitos desses casos, pode ser feito um projeto de criação que será executado por um artesão. O artesanato geralmente pode ser produzido em série, mas por se tratar de uma feitura humana, cada peça irá carregar um aspecto próprio. Como ou autor Richard Sennett comenta em seu livro o (2013), a atividade artesanal é exercida tanto por um musicista, quanto por um cirurgião, ou um artista, isto é, trata-se da habilidade galgada pela experiência que permite a execução de alguma atividade específica por um especialista.
A arte, um campo complexo, consiste numa atividade que confronta o que costumamos chamar de trabalho. A arte proporciona um tempo que vai além das durações impostas pelo tempo do trabalho, pois é a base da criação e o ato de criar não se prende a um tempo externo, pois é um fluxo que concretiza uma séries de sensações, experiências e contextos político-culturais. A história da arte comporta muitos e diferentes movimentos com distintos anseios. Na arte da antiguidade, as produções narravam a relação do homem com a divindade, no Renascimento, as relações inscritas nas obras eram entre o homem e o mundo que o rodeava, já na arte moderna com um destaque para o Cubismo, identificamos as relações com elementos triviais. Uma característica que existe desde a arte de 60, é quando o objeto deixa de existir e o que passa a agenciar a poética é o encontro. A arte é um encontro, ou mesmo um testemunho. A arte contemporânea, contudo, abrange um campo extenso com diferentes meios de produção e abordagens experimentais. Bebemos na fonte infinda da arte, que alimenta nossos estados de criação e nos possibilita criar peças cada vez mais singulares. No entanto, não produzimos obras de arte na Incomun.
Apanhando um pouco de cada síntese que eu apresentei aqui, entendendo que a Incomun está na fronteira entre arte, design, artesanato e moda. Esse lugar da fronteira não é fácil, e a gente continua tentando se entender, se nomear e transmitir o que somos à nossa audiência. No entanto, temos clareza de que o meio de trabalho é artesanal, que somos especialistas na transformação da matéria prima que utilizamos em objetos elaborados. Tais objetos circulam o mundo inspirando novas composições no vestuário e transformando o modo de vestir de muitas pessoas, como muitos clientes já nos relataram. Realizamos projetos de pesquisa para descobrir de quais modos algumas formas, texturas e cores existentes podem se transformar em detalhes das nossas peças. Instigamos a liberdade de experimentação do corpo através do uso de brincos, colares, roupas, e artefatos singulares, feitos para pessoas diversas, para compor o estilo individual, que comunica uma expressão única de cada um. Concretizamos isto artesanalmente e percebemos que a arte, o design e a moda nos atravessam com muita força e compõem o que somos.
Thaís Rocha. Co-idealizadora da marca Incomun, Artista Visual, pesquisadora na linha de pesquisa em poéticas contemporâneas, artífice, especialista em argila de polímero.